sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

O BRASIL NÃO É O PAÍS DO FUTEBOL

É muito comum ouvir: “O Brasil é o país do futebol.” Mas não é bem assim. O Brasil não é o país do futebol. Para jogar bola o cidadão tem que ser craque, bom de bola não basta. Como seria bom se o Brasil fosse o país do futebol! Não dá para enganar se não souber jogar bola, tanto o técnico quanto o jogador não continua no time, tem que ter qualidade; gol é gol. Não basta ser filho de Pelé, para jogar no Santos, tem que provar que é bom de bola e chega de lero lero. A famosa expressão QI (quem indica) no futebol não funciona. Não adianta ser amigo do diretor, conhecer o presidente, almoçar com o ex-craque, que no futebol não se arranja vaga para quem não sabe jogar bola, e pronto!
O Deputado tem um parente, o Senador tem um neto, o Assessor um genro, tudo isto dá certo fora dos gramados, pois, nos quatro cantos tem que correr e produzir, não tem motorista particular e nem suplente. Não adianta recorrer, pois se passar pelo dirigente, a torcida pede o pescoço do infeliz. Futebol é coisa séria, coitado do diretor que enganar a torcida, até a sua casa é depredada. Se o árbitro for comprado e prejudicar um time, nunca mais o imbecil será esquecido, a torcida tem memória longa.
As cores da camisa têm mais força que qualquer remédio, se o time não ganha, veste-se a camisa para mostrar que nada aconteceu, não se abala. Se o time ganha, veste-se a camisa para mostrar que são os melhores e ninguém pode com a gente. Mas anda-se, lado a lado, pessoas com camisas diferentes. Respeita-se o adversário, cada um com sua escolha, só não podem misturar as cores, preto é preto, azul é azul, vermelho é vermelho...
Religião e política, não se discutem, pois futebol se discute, e muito, são milhares de jornalistas em todo tipo de imprensa: jornais, televisão, rádio e internet, os mínimos detalhes são esmiuçados; a venda do jogador, quem comprou, quanto pagou, para onde ele vai, qual foi o seu gol mais bonito, seu primeiro time, sua primeira mulher, onde mora sua mãe, quem foi seu pai, quem ele namora atualmente, tipo de namorada, o que ele faz com o dinheiro, se ele é arrimo de família, se ele é feio, se ele está com uns quilinhos a mais, tudo, tudo vem a tona no futebol. Nada fica debaixo dos panos ou termina em pizza.
Não cobra dos jogadores boa aparência; pode ser negro, índio, mestiço, branco, feio, perna torta, cabelo encaracolado, nariz torto, dente disformes, sem estudo, pouca inteligência, qualquer tamanho. Tudo passa, se ele for um talentoso jogador, é o que interessa. Se ele cai em campo, imediatamente, aparece um médico com o seu auxiliar, o diagnóstico é feito na hora. Se houver lesão em uma semana está curado, se quebrar um osso da perna em dois meses está perfeito. Tem as melhores clínicas a seus dispor. Os melhores médicos e terapeutas. Ah! Se o Brasil fosse o país do futebol.
E os estádios, são mais bem construídos que qualquer templo. São bem localizados, têm amplos estacionamentos, seguranças, avenidas desobstruídas, sempre, bem cuidadas, senão a crítica cai em cima. Não pode faltar luz, nem água. São mais importantes que as universidades, pois lá dentro estão correndo os futuros homens deste país: Ministros, Deputados, Embaixadores, Prefeitos, Vereadores...
Ao contrário do futebol, este país caminha com seus vícios. Onde a preocupação com a qualidade não é redundante, a saúde não tem pressa, e os apadrinhados dominam os empregos de grande importância. É um país, onde se exige boa aparência e a competência do cidadão fica para o segundo plano. Não temos torcidas e sim um povo de memória curta. Como seria bom! Se este país fosse o país do futebol...

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